O Observatório para a Liberdade Religiosa

Eis que nasce a mais recente inciativa em Portugal para a Liberdade Religiosa. Este é um projecto que aspira reunir académicos, religiosos e todo o interessado no tema da liberdade religiosa. Segue a carta de apresentação redigida pela equipa fundadora.

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Criação do «Observatório para a Liberdade Religiosa»

Conscientes do momento especial que se vive no campo da Liberdade Religiosa, quer em termos nacionais, com uma sitiuação institucional bastante frágil, quer em termos internacionais, onde a violência atinge limites de banalização que não se pensavam possiveis, um grupo de cidadãos, ligados à investigação e à comunicação e jornalismo do Fenómeno Religioso, decidiram criar um instrumento isento e independente para observar e sinalizar a Liberdade Religiosa.

Acolhido pela área de Ciência das Religiões da Un. Lusófona, o Observatório para a Liberdade Religiosa está desde já aberto a todos os cidadãos, investigadores ou não, profissionais ligados à religião, ou não, para rapidamente criar uma dinâmica de efectiva monitorização da Liberdade Religiosa.

Coordenado nesta fase inicial por Joaquim Franco e Alexandre Honrado, o Observatório para a Liberdade Religiosa apresentará um web site, e realizará uma conferencia de imprensa para apresentar mais detalhadamente os seus princípios norteadores (que seguem abaixo).

  Observatório para a Liberdade Religiosa (OLR)

 – O Observatório para a Liberdade Religiosa (OLR) nasce por iniciativa cívica e académica, tendo como principal missão a observação do Fenómeno Religioso, no respeito pelo princípio das liberdades associativa, individual e de consciência.

– Promovendo iniciativas próprias e/ou estabelecendo parcerias, o OLR tem ainda como missão acompanhar e facilitar processos de diálogo cultural, especificamente o diálogo entre estruturas de crença, na forma de religiões e/ou espiritualidades, promovendo o respeito pelas diferenças e a responsabilidade social, para uma cidadania plena e ativa.

– Cruzando conhecimento e informação, o OLR facultará às comunidades religiosas, à academia e à sociedade em geral, mecanismos de identificação, sinalização e análise do Fenómeno Religioso, em defesa da Liberdade Religiosa e baseado na Carta dos Direitos do Homem.

– Como estrutura independente ao serviço do pluralismo cultural, o OLR reunirá e emitirá sínteses de atividade, tornando público um relatório anual.

– O OLR reconhece a complexidade do Fenómeno Religioso, o valor das diferentes culturas religiosas e ou espirituais e planos de consciência, o desafio do diálogo, o estímulo às práticas de cidadania a partir da observação dos direitos e deveres inerentes à Liberdade Religiosa, a importância do estudo e disseminação da Ciência das Religiões, bem como da produção de conhecimento isento relativo ao Fenómeno Religioso em todos os escalões de ensino reconhecidos oficialmente.

Alexandre Honrado

Fernando Catarino

Joaquim Franco

Mariana Vital

Osiel Lourenço

Paulo Mendes Pinto

Rui António da Costa Oliveira

Rui Lomelino de Freitas

António Faria

Deus tem Futuro?

“Deus tem futuro?”…Pergunta difícil, para mote de um debate que se esperava rico e novo. Mas ninguém arriscou muito a dizer se Deus tem futuro ou não. Se calhar também não sabem, eu própria se calhar também não sei, mas tenho o meu palpite.

Deus tem futuro? Deus tem o futuro que lhe quiserem dar! Mas eu acredito que sim…num outro tom, com uma outra espiritualidade, mas tem futuro. Tem futuro tanto como teve passado e tem presente.

As gerações vindouras, independentemente do credo professado, vão querer uma espiritualidade mais próxima. Há muitos jovens que se afastam das estruturas que rodeiam a espiritualidade mas não perdem Deus de vista. Vejamos, hoje em dia, com todo o mediatismo que os acontecimentos adquirem, através das redes sociais e dos novos media, um pequeno conceito ganha toda uma dimensão.

Num momento difícil para a Igreja, recorde-se os escândalos de corrupção e pedofilia, apareceu o Papa Francisco. Os escândalos não desapareceram, mas a Igreja, deixou a sua imagem cansada e ganhou um novo folego. O Papa Francisco, foi ao cerne da questão, pobreza, amor e ajuda ao próximo, e nada voltou a ser igual! Foi uma lufada de ar fresco que arrumou a casa e tocou nas feridas, tratando-as. A espiritualidade foi revitalizada pelos apelos à fé deste sul-americano que prefere servir a ser servido, como Jesus Cristo!

Os jovens têm as suas convicções e os grupos juvenis crescem e tornam-se uma segunda família. Música, campanhas de solidariedade, orações marianas, tudo exemplos de iniciativas que alicerçam uma espiritualidade cada vez mais interior, numa demonstração clara que Deus “mora” aqui.

Noutro extremo, podemos observar o crescente de jovens a combater na Jihiad , por serem fieis às suas convicções, deixando família e muitas vezes os próprios ideais para combater numa guerra que acreditam ser santa, sem olhar a quem nem ao porque. Muita gente não percebe, não dá importância, simplesmente ignora! Mas ninguém pode ou deve duvidar da força que a fé pode ter, do mesmo modo que também não deve ser questionado o modo como é vivida a fé.

A outrora burocratizada religião, hoje em dia está mais perto, mais acessível e mais livre…as relações são ecuménicas mas igualmente inter-religiosas. As pessoas buscam a Deus, as pessoas buscam a paz, as pessoas buscam algo interior para responder às questões exteriores. Deus tem futuro? Tem…mais que não seja no coração de quem o quiser seguir.

Cátia Filipe – investigadora convidada a participar no Vozes em Diálo Inter-Religioso com a sua reflexão sobre o debate realizado no mês de dezembro passado, no contexto do programa Prós e Contras emitido pela RTP1.

O debate passivo e o texto reactivo

Na segunda-feira 8 de dezembro, foi-nos apresentado, num debate que prometia falar de religião, um painel pouco diferenciado (representantes de três tradições monoteístas com um testamento em comum), o que empobrece, desde já, o espelho do mosaico diverso e riquíssimo de crenças e tradições que pintam a realidade. Ainda assim, um debate com três representantes de tradições religiosas é uma oportunidade rara. Para mais quando é acontece e é emitido para um grande público. No entanto, a rara oportunidade passou ao lado das expectativas e os representantes ficaram-se pelas suas tradições em vez de alcançarem um colectivo. Não se trata de ecumenismo, trata-se de inter-religiosidade. Não se trata de uma piscina monoteísta com três pistas diferentes. Dizer que o Islão, o Judaísmo e o Cristianismo partilham a mesma água não será uma ofensa, pelo contrário, seria uma homenagem ao pai Abraão. E de um pai comum para uma multiplicidade de pais: que colectividade é esta? Que religiões quando se fala de religião?

Perguntava a moderadora do debate “Mas afinal, é tudo o mesmo?”, falava de cultos, de tradições que se assumem como religiosas e ou espirituais. A pergunta inocente e contaminada “É tudo o mesmo?”, teve respostas evasivas, e a única visão que procurou conciliar religiões e espiritualidades sob a mesma legitimidade veio da participação fora do painel, numa jovem, que assume um “sim, é tudo o mesmo”. A coragem a esta jovem pertence. Nenhum dos experimentadíssimos líderes ensaiou uma resposta sobre “Que colectivo na religião?”. Esta falta de ousadia por parte dos líderes poderá dever-se à franca premissa de um “Não somos todos o mesmo e não somos todos iguais”, e, se assim for, poderemos observar o reconhecimento da diversidade inerente à diferença deste todo em que “não somos todos iguais”. Haja múltiplos e diferentes caminhos. O diálogo não perde na valorização da diferença, perde sim quando desvalorizamos a dignidade total que nos abarca como comuns que se identificam neste todo complexo e diverso. Quando acreditamos que ao não ser o mesmo que eu, o outro perde, e eu ganho. À pergunta desta moderadora, eu responderia “Não somos iguais, mas partilhamos a mesma intenção de compreender e encontrar sentido no mundo em que vivemos. Somos diferentes sim, mas somos comuns, quando partilhamos a mesma espécie, a mesma casa, as mesmas dúvidas, os mesmos êxtases e paixões. Somos diferentes, mas somo-lo em união.”

As verdades (plural mesmo) são condição na busca, nas procuras de sentido. Quando escolhemos simplificá-las, resumi-las, corremos o risco de perder, no processo, a informação que as construiu. Assumir que um espectro de visões pode ser representado por uma selecção de três visões semelhantes é, de facto, roubar a uma riqueza que se justifica a ela própria.

Paulo Borges, aquando da expectativa pela nomeação do novo Papa católico, partilhou com a Antena 1 o seu desejo por um líder cristão que soubesse promover o Diálogo Inter-Religioso e que finalmente o fizesse sair do trinómio monoteísta. Neste debate televisivo, este desejo não foi concretizado. Ainda.

À pergunta de partida “Deus tem futuro?”, esta é a minha resposta: Deus, como parte do fenómeno do divino, sobrevive sincreticamente nas emergências espirituais. Como último apelo defendo o seguinte: O debate religioso tem de se abrir além dos monoteísmos, porque isso é limitar-lhe a sobrevivência. Sobreviverá como Deus, Deusa, Deuses, Deusas. Enquanto houver pessoas, sobreviverá como conhecimento experimentado e como experiência por descobrir.

MV

Findo 2014, bem vindo 2015!

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2014 despediu-se de nós com a promessa de um novo Observatório para a Liberdade Religiosa e Portugal foi eleito membro do Conselho de Direitos Humanos (CDH) da ONU para o biénio 2015/2017.

Com este mote, 2015 começa com boas novas pois em janeiro realizar-se-á a apresentação do Observatório para a Liberdade Religiosa e o mês de fevereiro promete a observação da Harmony Week com uma programação interessante na capital portuguesa.

Relativamente a este espaço, os primeiros textos de 2015 publicados remeterão para o debate realizado no mês de dezembro passado no contexto do programa Prós e Contras emitido pela RTP1, mas também para a criação e apresentação do Observatório para a Liberdade Religiosa.

Estejamos atentos, pois as águas agitam-se pela dignidade da Liberdade Religiosa.

MV